Um asteroide de 10 km de diâmetro provocou uma nuvem de cinzas global que impediu a fotossíntese
Há 66 milhões de anos, quando os dinossauros ainda eram os reis da terra, um asteroide gigante mudou a vida do planeta para sempre. A hipótese, proposta pela primeira vez nos anos oitenta pelo cientista norte-americano Luis Álvarez e seu filho Walter, tentava explicar o desaparecimento de mais de 75% das espécies de seres vivos da época – incluindo os dinossauros –, definida pela divisão geológica entre o Cretáceo e o Paleogeno. Na união entre essas duas épocas, os Álvarez encontraram uma grande quantidade de irídio, um material que é muito raro no córtex terrestre, mas abundante em meteoritos e asteroides. A partir das medições do irídio depositado entre as duas épocas, eles calcularam que a rocha que extinguiu os dinossauros e trouxe esse elemento tinha 10 quilômetros de diâmetro.
Desde então, reuniram-se muitas informações sobre o que pôde ter acontecido após aquele impacto. Nesta semana, uma equipe do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas (NCAR) e da Universidade do Colorado, Boulder (EUA), elaborou um modelo computacional que reconstrói os meses posteriores à colisão.
Além dos restos de irídio, na fronteira geológica que os dinossauros nunca cruzaram também há evidências do asteroide. As estimativas mais recentes são de que existam 15 bilhões de toneladas de cinza geradas por incêndios que arrasaram o globo após o impacto. Com dados como esse, os pesquisadores, liderados por Charles Bardeen, criaram uma simulação em que o Sol esquentou as cinzas, elevando-as na atmosfera até gerar uma cortina que envolveu o planeta na escuridão. Nesse novo mundo, iluminado como uma noite de lua cheia, a fotossíntese ficou inviável.
Assim, a interrupção do processo pelo qual as plantas e algas transformam a energia solar em alimento, que pode ser aproveitado por outros animais, detonou a hecatombe. Grande parte dos vegetais terrestres foi consumida nos incêndios, e o breu dizimou o fitoplâncton – organismo básico na cadeia alimentar dos seres marinhos.
Os dias escuros fizeram a temperatura baixar, chegando a cair até 28 graus nos continentes e 11 nos oceanos. E enquanto o frio se propagava pela superfície da Terra, o inferno reinava nas camadas mais altas da atmosfera. As cinzas volatilizadas absorveram a luz do Sol, e um aumento da temperatura provocou a destruição de parte da camada de ozônio. Além disso, o calor gerou o acúmulo de grande quantidade de vapor d’água. Esse vapor facilitou reações químicas, produzindo compostos que pioraram a situação da camada de ozônio. Depois de quase dois anos, quando a nuvem de cinzas depositou-se no solo e permitiu a passagem da luz solar, a Terra estava desprotegida contra a radiação ultravioleta – que atingiu os sobreviventes daquela longa noite.
Os autores do estudo reconhecem algumas limitações de seu modelo. Para criá-lo, utilizaram a Terra atual e não ao do Cretáceo, que tinha os continentes em posições distintas e uma atmosfera diferente. Tampouco levaram em conta as erupções vulcânicas e os gases liberados logo depois do acidente.
Ainda assim, a simulação é mais um passo na tentativa de reconstruir o que ocorreu há 66 milhões de anos, um período muito importante para os mamíferos que seriam os ancestrais dos humanos. Aqueles pequenos animais talvez tenham sobrevivido escondidos no subsolo, com maior flexibilidade que os grandes répteis para superar a crise. Alguns estudos, contudo, indicam que a mudança já havia começado antes do desastre e que os mamíferos se diversificavam havia tempo, preparando-se para ocupar o espaço de seus antecessores. Além disso, a situação dos dinossauros não tinha sido fácil ao longo de um milhão de anos prévios à sua extinção. Naquele período, houve fortes variações climáticas com longas ondas de frio, algo fatal para animais mais bem adaptados ao mundo mais quente do Cretáceo. Portanto, aquela noite que durou dois anos pôde ter sido só o último empurrão para uma mudança de época que se anunciava muito tempo antes.
Comentários
Postar um comentário