Ossos encontrados em Santa Maria (RS) foram analisados por pesquisadores da USP
Não há nada que desperte mais a curiosidade das pessoas que uma morte inexplicável ao melhor estilo Sherlock Holmes. Talvez seja por isso que possíveis explicações para a extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos, tenham ocupado uma fatia considerável do tempo de paleontólogos de todo o século 20. Hoje, é quase certo que um meteorito que caiu na península de Iucatã, no México, desencadeou uma mudança climática que deu fim aos répteis e encerrou o período Cretáceo.
Resolvido o problema do fim, resta o mistério do começo. E o primeiro passo da resolução é do Brasil. Uma equipe da Universidade de São Paulo (USP) liderada pelo pesquisador Max Langer analisou fósseis que datam do período Triássico, há 230 milhões de anos, e eles esclareceram duas perguntas importantes sobre a ascensão dos animais. Os esqueletos foram encontrados em um sítio arqueológico no município de Santa Maria (RS), e os resultados estão publicados no periódico científico Current Biology.
Um dos fósseis é de uma família chamada Lagerpetidae — um grupo precurssor dos dinossauros que viveu no período Triássico. Outro já é um dinossauro propriamente dito, o Buriolestes schultzi, que daria origem às espécies herbívoras gigantes do grupo dos saurópodes nos milhões de anos que se seguiram.
O simples fato de que os fósseis foram encontrados juntos já revela algo inédito: que os dinossauros foram contemporêneos de famílias de répteis semelhantes e mais antigas, o que indica uma transição lenta e gradual. Ambos são representados na imagem que abre a matéria, com os ossos encontrados em destaque.
"Agora nós temos certeza de que os dinossauros e seus precurssores foram contemporâneos e que a ascensão dos dinossauros foi gradual, não uma submissão rápida dos outros animais da época", explicou Langer ao Science Daily.
A outra resposta mora nos detalhes. Em geral, fósseis do Triássico são fragmentos muito pequenos e pouco reveladores. O esqueleto de Buriolestes schultzi encontrado em Santa Maria, por outro lado, ainda contava com crânio, membros anteriores e vértebras, o que permitiu associar seus traços anatômicos aos dos saurópodes posteriores e preencher uma lacuna importante no registro fóssil do Triássico.
Foram tantos detalhes que surgiram inclusive contradições. Uma análise detida dos dentes do schultzi revelou que ele era carnívoro e provavelmente se alimentava de pequenos animais, comportamento que mudou em seus descendentes, 100% fãs de salada.
Essa evolução vegetariana, claro, é o próximo passo da investigação. Para os pesquisadores, a mudança de dieta com certeza tem algo a ver com o aumento de tamanho: seria difícil encontrar presas suficientes para sustentar um corpinho de algumas toneladas. Árvores, por outro lado, são um fonte de calorias mais dócil.
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