Ainda na pegada do Sistema Solar do passado, imagine se os dinossauros olhassem o céu na época deles, tipo 100 milhões de anos atrás. OK, certamente eles olhavam o céu, só não compreendiam nada além de chuva, Sol, noite e dia. Então suponha que eles pudessem olhar para o céu, registrando, o que viam. Com uma pequena luneta, saberiam das fases de Vênus, das luas de Júpiter e de Saturno, mas que não seria mais que uma bolinha amarelada, com várias luas em volta também. Se houvesse qualquer registro dessas observações, elas iam parecer tudo igual a hoje, mas uma coisa chamaria a atenção: Saturno não teria anéis e haveria mais luas do que hoje!
Pois é, não que os astrônomos dinossauros da época fossem ceguetas, mas sim que o sistema de Saturno era bem diferente do que é hoje. Bom, isso é o que sugere uma pesquisa liderada por Martija Cuk, do famoso Instituto SETI, publicada nesta semana.
As conclusões da pesquisa de Cuk e colaboradores de outros institutos são decorrentes de simulações de modelos de evolução do sistema saturniano, mas baseadas em observações dos anéis de Saturno feitas ao longo dos anos. A ideia era que o sistema de luas e anéis de Saturno seria primordial, ou seja, eles estariam lá desde o início do Sistema Solar, há mais de 4 bilhões de anos. O que se sabe é que as luas e os anéis estão lá desde os anos 1600, quando foram descobertos, mas parece que são muito mais recentes do que se pensava.
As observações mostram que os anéis de Saturno estão se espiralando para regiões externas de forma relativamente rápida. Isso se deve às interações gravitacionais complexas entre os anéis, as luas e os movimentos de fluidos no interior do planeta gigante. Isso indica que tanto anéis, quanto as pequenas luas interiores devem ter se formado recentemente. Se eles fossem tão velhos quanto se pensava antes do trabalho de Cuk, todos eles já teriam escapado de perto de Saturno faz tempo.
Outro resultado interessante a respeito das luas em si é que nesse movimento de migração elas devem ter passado muito perto de Saturno e das luas maiores, por exemplo Titã e Iapeto que ficam mais para fora do sistema e que devem ter se formado há muito mais tempo. Nesses passagens elas sofreram com a ação das forças gravitacionais desses corpos maiores, principalmente Saturno, deixando cicatrizes profundas como esse cânion gigante (que se chama ‘chasma’) na lua Dione.
Outra consequência do movimento migratório de tanta lua pequena é trágico: colisões. Aqui na Terra só tem a Lua em órbita, mas imagina o tráfego de mais de 50 pequenas luas, constantemente mudando de órbita! Nesse esquema as colisões são frequentes, rachando ou mesmo destruindo as luas mais interiores, mas gerando uma nuvem de destroços que de um jeito ou de outro vai formar o sistema de anéis. Essa parte das colisões já era conhecida, mas as simulações de Cuk mostram que tudo isso deve ter acontecido há menos de 100 milhões de anos, uma escala de tempo curtíssima se comparado com as escalas de tempo de evolução do Sistema Solar. Para se ter uma ideia, isso corresponde ao período em que os dinossauros dominavam a Terra.
Certamente é um privilégio estarmos na época certa para vermos um Saturno rodeado de anéis e pelas simulações do grupo de Cuk, não demora para o sistema se desfazer. Como diz o ditado: vão-se os anéis, mas fica o planeta!
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